PORQUE O DESMATAMENTO IMPORTA


  • 30/05/2016 21h15
  • São Paulo
  • Tradução livre: Diogo Esperante


Historicamente, o foco da indústria de pneus em sustentabilidade esteve sempre motivado pelo consumo energético e emissões de CO2. Eu sei disso porque acabei de publicar um Relatório sobre a Sustentabilidade na Indústria de Pneus.

 

Sustentabilidade focada na “pegada” de carbono


É consenso entre os engenheiros de pneus que 80% de toda a “pegada” de energia dos pneus depende de energia que é desperdiçada durante a rolagem do pneu pela pista. Os engenheiros chamam isso de “resistência de rolagem”.


Isso vale dizer que se você quer reduzir o total de energia gasta por um pneu, você precisa torna-lo mais eficiente em relação ao gasto de combustível reduzindo sua “resistência de rolagem”.

Por duas décadas, este jeito de pensar motivou tanto criações como a do pneu Michelin Green X; a dos compostos de sílica como também os esforços para obter a nota A na rotulagem da União Européia.

De uma maneira geral a indústria de pneus tem procurado reduzir a “resistência de rolagem” em ubusca da economia de combustível e consequente redução da emissão de CO2 produzido pelos motores dos veículos. A partir da semana passada, isso passou a ser insuficiente.


Atenção aos movimentos de desmatamento

A partir da semana passada, a indústria terá que pensar cuidadosamente a respeito das fontes de suas matérias primas – especialmente borracha natural.

Voltemos no tempo, a 06 meses atrás, para Dezembro de 2015. Talvez você se lembre de quando as nações do mundo realizaram o Acordo de Paris sobre o Clima.

Eu não sei como foi para você, eu até que senti um agradável brilho verde, mas logo depois segui em frente com a minha vida.

Foi apenas na semana passada em Cingapura é que eu finalmente compreendi de fato o que significou tudo isso.


Significa que qualquer indústria que depende de materias-primas provenientes de regiões tropicais terá que sentar e tomar nota do Acordo de Paris. De fato não é apenas o Acordo de Paris. Há uma série de outros importantes e respeitados acordos como a Declaração de Amsterdan para Eliminação do Desmatamento nas Cadeias de Suprimento de Commodity;  a Declaração de Nova Iorque para as Florestas e a Declaração das Nações Unidas REDD+ . E existem muitos outros.


Qualquer organização que leve a sério suas responsabilidades sociais terá de assinar estes acordos de não-desmatamento.

Imagine ainda que mesmo que uma empresa decidida não ser signatária de nenhum destes Acordos é bem provável que mais tarde ela se veja consumindo matéria-prima proveniente de um destes programas de não-desmatamento.


Florestas estão sendo cortadas para produção de borracha

Por que em centenas de locais ao longo da Região de Mekong, empresas madereiras estão desmatando florestas e plantando seringueiras. Estas seringueiras crescem e a borracha encontra seu caminho para os nossos pneus. Isto faz de nós cúmplices neste desmatamento? Você esta satisfeito com isso?

Isso é uma questão importante. Leia o que a Diretora de Sustentabilidade da Pirelli falou sobre isso no artigo “10 coisas que você precisa saber sobre desmatamento.

Todos nós da indústria de pneus aprenderemos o quão importante é esta questão nos próximos meses.

A sociedade Civil motivando a mudança

Aqueles que como eu prestaram pouca atenção a todas estas declarações contra o desmatamento, tem razões para ser gratos as organizações não-governamentais como Birdlife InternationalWWF,Greenpeace e Global Witness.
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Elas não deixaram que estas declarações passassem desapercebidas. Foram a Myanmar, Laos, Província de Yunnan e outras áreas e trabalharam com equipes de campo e a população local para entender o impacto das atividades madereiras e de plantio de borracha.

Os  impactos variam dentre mudanças no padrão das correntezas,  secura de rios, aumento de processos de erosão, rápidas transformações sociais e redução no sequestro de carbono. Em sua maioria estes impactos são muito negativos. E sabe o que é mais extraordinário? A maioria de nós na industria pneumática não temos a menor noção de nada disso.

Eu sou descrito como “o cara da borracha natural” por meus colegas na industria da borracha. E eu não tinha a mínima ideia de quão ruim as coisas estavam.

Mas teremos que aprender rapidamente.

A pressão vai aumentar

Imaginemos hipoteticamente uma empresa global do ramo de pneus com o nome “BlackRound Tyre & Rubber Company”.
Você consegue imaginar as manchetes caso uma grande organização ambientalista publicasse um alerta com o título: BlackRound promove desmatamento e exploração florestal”?.


  • Primeiramente, como a BlackRound, mesmo com seus consideráveis recursos, provaria a falsidade das alegações?

  • Segundo, como eles buscariam remedidar a situação colocando em prática programas para evitar futuras acusações?

  • Terceiro, aquela manchete e todo o conteúdo pesquisado pelos ambientalistas se tornaria viral se espalhando por toda a internet. Qual seria o impacto para a marca da empresa?

  •  Quarto como os clients da BlackRound reagiriam?

 

Necessidade de colocar Programas de Rastreabilidade em prática

A partir da semana passada, todos os produtores de pneus terão de se perguntar estas questões e apresentar programas efetivos para entregar respostas.

Eu já escrevi anteriormente que a industria de pneus esta dividida entre lideres e seguidores.


Michelin é claramente uma líder. Ela é – de longe – a mais avançada no que se refere ao reconhecimento dos desafios do desmatamento. A Michelin foi a única fabricande de pneus, até agora, a publicar uma Declaração de Compromisso com o desmatamento zero.

A Michelin tem trabalhado com as ONGs que mencionei anteriormente em defesa das florestas e possui uma gama de projetos em diferentes partes do mundo.

Enquanto outros fabricantes tem poucos programas similares em prática, estas ONGs estão destacando a Michelin como a mais pró-ativa companhia com esforços para a redução do desmatamento e proteção das árvores de grande potencial de sequestro de carbono.


A reação em geral das outras empresas foi de ainda tentar entrender o que o desmatamento zero realmente significa e de como esta questão escapou aos seus radares e agora os atingiu em cheio, aparentemente do nada.

Marcas Fortes se comprometerão com o não desmatamento

Eu penso que a parti de agora, qualquer empresa que esteja em busca de uma forte reputação para sua marca terá de se comprometer com o não desmatamento da maneira mais efetiva possível e pensar cuidadosamente sobre programas de rastreabilidade da fonte da borracha natural que compram.

Muitas pessoas podem achar que as marcas de primeira linha responderão mais rápido do que as outras. Talvez isso seja verdade, mas se eu fosse de uma das marcas chinesas que hoje buscam competir com as empresas de primeira linha na Europa e nos Estados Unidos como a GiTi, Triangle ou a Sailun, estaria seriamente comprometido em estudar meios de gerenciar minha cadeia de suprimentos no intuito de demonstrar responsabilidade quanto a sua fonte e em relação a garantia de não estar contribuindo para o desmatamento.

Primeiro, porque em poucos meses esta questão vai impactar todos no setor e segundo porque empresas menores tem mais facilidade em reagir rapidamente do que grandes marcas.


As ONGs tem grande motivação para gerar transformações. Eles podem fazer isso buscando influenciar empresas madeireiras, pneumáticas e seus consumidores.

A influência sobre as empresas produtoras de borracha tem sido pequena e com as madeireiras continua em curso.

Se as ONGs conseguirem persuadir os fabricantes de pneus do mundo a se comprometerem com a conservação e com a proteção das florestas naturais por meio de ações no campo estaremos no caminho certo para podermos oferecer uma fonte mais sustentável de borracha natural.

Eu imagino que em 01 ano, veremos mais pneus com a rotulagem "Produzido com Borracha Livre de Desmatamento". E tenho uma forte crença que aqueles que não forem capazes de apresentar este rótulo em seus produtos estarão em séria desvantagem comercial

Autor: David Shaw é um reconhecido analista das questões globais que afetam a indústria de pneus. Sua empresa atualmente publicou o Relatório Sustentabilidade na indústria de pneus.  

Texto Original: https://www.linkedin.com/pulse/why-deforestation-matters-tire-industry-david-shaw?trk=hb_ntf_MEGAPHONE_ARTICLE_POST

Tradução Livre: Diogo Esperante (Tradução autorizada pelo sr.David Shaw apenas para uso Educacional publicada originalmente em http://www.seringueira.com.br/noticia_seringueira_300516.php)

 

Edição: Diogo Esperante
Gerente de Projetos pós-graduado pela FEA-RP/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) atua no setor da Borracha Natural desde 2008. Diretor Executivo da Apabor (www.apabor.org.br) é atualmente responsável pelo programa de Reposicionamento Estratégico da Instituição. Integra como Analista de Mercado a Equipe de Gestão do Grupo Hevea Forte (heveaforte.com.br) onde foi o criador do Programa de Monitoramento de Indicadores. É Analista de Negócios do software de Gestão de Seringueiras Heveasoft www.heveasoft.com.br) identificando e traduzindo as demandas das equipes de campo e interagindo com a criação de soluções junto a equipe de programação. Gerencia a produção de borracha natural na propriedade familiar Fazenda Morada da Prata no interior de Minas Gerais e como articulista, escreve para o periódico especializado internacional Rubber Asia (www.rubberasia.com) desde dezembro de 2016 e no Brasil para o espaço www.seringueira.com.br desde outubro de 2015.