BRASIL CRESCE MAS FALTA PLANEJAMENTO


  • 29/05/2016 21h15
  • São Paulo

A participação da Borracha Nacional no total de borracha consumida no Brasil esta aumentando. 

Esta é uma das conclusões do estudo realizado pela seringueira.com.br no início deste mês de maio em que foram compilados números da Base de Dados do Ministério da Indústria e Comércio (MDIC) e do IBGE.


Ao que tudo indica, esta situação parece ter sido motivada por dois fatores:

1. Aumento da produção nacional

2. A diminuição no crescimento do consumo de borracha pela indústria brasileira.

Em relação ao segundo fator destaca-se a desaceleração da economia mundial e em especial brasileira. 

Nos últimos 10 anos o consumo total cresceu 4% ao ano (pulou de 309 mil toneladas para 428 mil ton) enquanto a produção nacional foi de 105 para 209 mil toneladas totalizando crescimento de 10% ao ano.

Em resumo concluímos que: enquanto a produção cresceu em média 10% a.a., o consumo cresceu a 4% a.a em média. Esse descompasso elevou a participação nacional de 34% em 2005 para 49% em 2016.

Esta tendência, de aumento da participação nacional no consumo total, é um importante indicador de ser monitorado pelas suas óbvias implicações no que diz respeito ao ambiente de comercialização de borracha em nosso país. 

Conservados estes panoramas, não é difícil de imaginar que logo a famosa máxima de que “produzimos 30% do nosso consumo e importamos 70%” se inverta e passemos a “produzir 70% do consumo e importar 30%” (haja vista o gráfico de Área em Produção vs Área Plantada no qual se destacam 70 mil hectares de seringueiras para entrar em produção nos próximos 4 anos).



Estes números foram objeto de análise do Grupo de Políticas Públicas da Câmara Setorial da Borracha Natural em sua última reunião e produziram uma interessante análise:

A produção de Borracha Natural no Brasil cresce, mas provavelmente o “voô será de galinha”!


A Cadeia Produtiva da Borracha Natural Brasileira esta colhendo hoje, frutos da forte expansão de área plantada, levada a cabo nos últimos 10 anos. Os presentes a reunião porém, não deixaram de registrar a falta de sustentabilidade do atual modelo de crescimento e expansão e de projetar seu declínio.

Diante do exposto, ficou claro que a diminuição dos novos plantios nos últimos 2 anos nos permite projetar uma ruptura na expansão. Esta ruptura certamente foi motivada pela crise (internacional e doméstica) que deprimiu as cotações da Borracha Natural e afugentou os investidores mais receosos com relação a viabilidade econômica da cultura.  A implantação, as pressas de novas Exigências para a produção de mudas no maior estado produtor, São Paulo, também promete deteriorar ainda mais o cenário, já cheio de incertezas.

Desta forma, até 2020 teremos um grande incremento na produção pela abertura de novas áreas produtivas (plantadas durante os “booms” de 2007 e 2011-12) mas, a partir do início da nova década é provável que a quantidade de seringais para “abertura” registre declínio e o movimento entre em reversão.

A evidente a falta de um Plano Integrado de Políticas Públicas para o setor no Brasil certamente foi um importante ingrediente nessa falta de sustentabilidade. Em suma, essa falha foi decisiva para que o mercado passasse a projetar uma avaliação cada vez mais negativa em relação a novos investimentos no setor.

Em conclusão, estas recentes rupturas destacam a importância - e por que não, urgência – em incentivarmos a criação de Programas Integrados de Políticas Públicas que garantam um ambiente de investimento mais favorável e estável para a Cadeia Produtiva cumprindo dentre suas premissas o Ataque aos Pontos de Estrangulamento do Setor e a Potencialização das Oportunidades de Geração de Valor.

Temas como a Garantia de Preços Mínimos, Incentivos Fiscais, Formação de Mão de Obra para exploração e gestão dos seringais, padronização de Práticas Produtivas e até mesmo o desenvolvimento de Programas de Rotulagem também foram discutidos pelo Grupo de Políticas Públicas da CSBN-SP em sua última reunião.

Em especial, com relação a esta última questão, traduzimos recentemente no portal seringueira.com.br um artigo do notório analista de mercado David Shaw que aposta na rotulagem como um importante diferencial para o setor de Borracha Natural nos próximos anos. (leia a integra do artigo aqui: www.seringueira.com.br/ultimasnoticias_300516.html)

Vale ainda destacar que o Brasil neste quesito tem grande vantagem sobre o resto do mundo pois já conta com legislações extremamente exigentes.

Como encaminhamento da reunião, todas estas questões foram usadas para compor uma apresentação que será tema da próxima reunião da Câmara Setorial no intuito de validar um plano de Ação.

Certos da importância deste trabalho, convidamos a todos agentes do setor a acompanhar e colaborar com os esforços para que possamos conquistar um crescimento mais sustentável para a Cadeia Produtiva da Borracha Natural em nosso país.

 

Edição: Diogo Esperante
Gerente de Projetos pós-graduado pela FEA-RP/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) atua no setor da Borracha Natural a 9 anos e atualmente integra como Analista de Mercado a Equipe de Gestão do Grupo Hevea Forte (heveaforte.com.br). Além de consultor, gerencia a propriedade familiar Fazenda Morada da Prata no interior de São Paulo e em Minas Gerais. Cordenador da Comissão de Políticas Publicas da Câmara Setorial da Borracha, escreve semanalmente neste espaço.